21.1.05

não tô deprê!!!


Texto para uma separação
Elisa Lucinda

Olhe aqui, olhos de azeviche
Vamos acertar as contas
Porque é no dia de hoje
Que cê vai embora daqui…
Mas antes, por obséquio:
Quer me devolver o equilíbrio?
Quer me dizer por que cê sumiu?
Quer me devolver o sono meu doril?
Quer se tocar e botar meu marcapasso para consertar?
Quer me deixar na minha?
Quer tirar a mão de dentro da minha calcinha?
Que parar de torcer para o meu fim dentro do meu próprio estádio?
Quer parar de saxdoer no meu próprio rádio?
Vem cá, não vai sair assim…
Antes, quer ter a delicadeza de colar meu espelho?
Assim: agora fica de joelhos
E comece a cuspir todos os meus beijos.
Isso. Agora recolhe!
Engole a farta coreografia destas línguas
Varre com a língua esses anseios
Não haverá mais filho
Pulsações e instintos animais.
Hoje eu me suicido ingerindo sete caixas de anticoncepcionais.
Trata-se de um despejo
Dedetize essa chateação que a gente chamou de desejo.
Pronto: última revista
Leve esta bobagem
Que você chamou De amor à primeira vista.
Olhos de azeviche,
vem cá: Apague esse gosto de pescoço da minha boca!
E leve esses presentes que você me deu:
Essa cara de pau, essa textura de verniz.
Tire também esse sentimento de penetração
Esse modo com que você me quis
Esses ensaios de idas e voltas essa esfregação
Esse bob wilson erotizado
Que a gente chamou de tesão
Pronto. Olhos de azeviche , pode partir!
Estou calma.
Quero ficar sozinha
Eu co’a minha alma.
Agora pode ir
Gente! Cadê minha alma que estava aqui?