12.7.06

O bom de andar com ela é que cachorro não me pega!

Quando não paramos por vontade, paramos por necessidade.
Pois é, me enclausurei devido um tropeção que me valeu uma semana de molho. Detonei o joelho...isso mesmo: joelho. Dez dias com a perna pra cima...é mole?!
No oitavo dia do meu repouso forçado, não consegui segurar a onda. Pra dizer a verdade só agüentei todo esse tempo por culpa exclusiva de alguns grandes amigos que me ligaram, e outros que me visitaram com livros, bombons, palavras cruzadas, e até um aparelho de DVD para assistir a segunda temporada de LOST...Aheeee, a mocinha mor... ops! (pôxa, Tia Flávia e Tio Chris arrebentaram!!!).
E ainda assim fiquei um bocado entediada... -Putz, como sou chata!!!
Enfim, estou de volta um pouco mancueba, um pouco coxa, um pouco tá raso tá fundo, um pouco manca, um pouco os Cachorros das Cachorras, um pouco Machado de Assis, e um pouco exagerada. É só uma questan de recuperação...
-Vamos lá Lulu, você consegue!


Memórias póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis-1881)

Saímos à varanda, dali à chácara, e foi então que notei uma circunstância. Eugênia coxeava um pouco, tão pouco que eu cheguei a perguntar-lhe se machucara o pé. A mãe calou-se; a filha respondeu sem titubear:

--Não, senhor, sou coxa de nascença.

Mandei-me a todos os diabos; chamei-me desastrado, grosseirão. Com efeito, a simples possibilidade de ser coxa era bastante para lhe não perguntar nada. Então lembrou-me que da primeira vez que a vi -- na véspera --a moça chegara-se lentamente à cadeira da mãe, e que naquele dia já a achei à mesa de jantar. Talvez fosse para encobrir o defeito; mas por que razão o confessava agora? Olhei para ela e reparei que ia triste.
Tratei de apagar os vestígios de meu desazo;-- não me foi difícil porque a mãe era, segundo confessara, uma velha patusca, e prontamente travou de conversa comigo. Vimos toda a chácara, árvores, flores, tanque de patos, tanque de lavar, uma infinidade de cousas, que ela me ia mostrando, e comentando, ao passo que eu de soslaio, perscrutava os olhos de Eugênia...
Palavra que o olhar de Eugênia não era coxo, mas direito, perfeitamente são, vinha de uns olhos pretos e tranqüilos. Creio que duas ou três vezes baixaram estes, um pouco turvados; mas duas ou três vezes somente; em geral, fitavam-me com franqueza, sem temeridade, nem biocos.
O PIOR É que era coxa. Uns olhos tão lúcidos, uma boca tão fresca, uma compostura tão senhoril; e coxa! Esse contraste faria suspeitar que a natureza é às vezes um imenso escárnio. Por que bonita, se coxa? por que coxa, se bonita? Tal era a pergunta que eu vinha fazendo a mim mesmo ao voltar para casa, de noite, sem atinar com a solução do enigma. O melhor que há, quando se não resolve um enigma, é sacudi-lo pela janela fora; foi o que eu fiz; lancei mão de uma toalha e enxotei essa outra borboleta preta, que me adejava no cérebro. Fiquei aliviado e fui dormir. Mas o sonho, que é uma fresta do espírito, deixou novamente entrar o bichinho, e aí fiquei eu a noite toda a cavar o mistério, sem explicá-lo.